sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sieben.

A gente não controla o que a gente sente. Se gostar de uma pessoa fosse assim, fácil, eu ainda estaria namorando. Mas não é assim que funciona. E até a gente entender que não, as pessoas não gostam da gente porque a gente quer que elas gostem simplesmente porque nós gostamos dela vai um tempo de reflexão, um pouco de raiva, um tantinho de mágoa, uma tonelada de chocolate – pra quem é saudável, rs – e mais um pouco de reflexão e até a noção de que a maldita da friendzone não existe.

Então a gente percebe que as pessoas são o que são, e sentem o que sentem, e que a gente não pode mudar isso à força, o que a gente pode fazer é, sei lá, rezar pra que algum detalhezinho nosso que tenha escapado da vista da outra pessoa faça com que ela passe a gostar da gente e – olha só, quem diria – pode ser que alguma coisa passe a encaixar, fazer sentido nessa maçaroca que são os sentimentos.

Alcançar esse tipo de “lucidez” leva um pouco de tempo, mas depois que acontece, fica até um tanto fácil de explicar. Mas é ÓBVIO que algo vai dar errado no caminho, porque como eu disse ali em cima, as pessoas são o que são e sentem o que sentem. E é compreensível, claro, quando alguém não consegue entender o processo todo.

Mas alguém pode me explicar por que raios catódicos eu acabei de ser acusada de não me interessar por uma pessoa que se diz apaixonada por mim, como se não corresponder uma paixão fosse o pior defeito que alguém pode ter, só porque eu disse que geralmente as pessoas por quem eu me interesso não retribuem o interesse?

Só falta alguém virar pra mim e dizer que eu não mereço que o meu interesse por alguém seja retribuído só porque não me interessei por essa pessoa em específico.

sábado, 22 de junho de 2013

Sechs.

Acorda. Lembra de um sonho. Descreve o sonho. Levanta. Toma café. Toma uma partícula de estabilidade. Arruma o quarto. Vai almoçar. Troca mensagens com algumas pessoas. Toma um banho. Arruma-se. Vai pra faculdade. Janta. Estuda um pouco. Pega outro ônibus. Chega em casa. Continua estudando. Fuma. Come. Toma uma partícula de estabilidade.

Acorda frustrada. Lembra de um sonho e o descreve pensando por que raios aquele sonho apareceu. Levanta meio tonta. Engole o café junto com a partícula de estabilidade. Sai pegando roupa suja pelos cantos e recolhendo o lixo. Gasta 50 reais em comida japonesa e sai de lá com um pacotinho. Fala com pessoas das quais gosta mas não sabe exatamente qual é a recíproca. Toma um banho quente com cuidado pra não escorregar. Desiste de colocar uma blusa que indica em qual faculdade estuda. Nota mental: a escarola não precisa de MAIS sal. Amaldiçoa Lutero por ter reinventado a língua alemã. Olha pro relógio. Tá mais tarde do que deveria. Senta no banco meio frustrada com o exemplar d’A política do Aristóteles na mão. Joga a bolsa de um lado e a blusa do outro. O que diabos significa Geschenkvorschlag? Ainda tem metade do maço. Esse hot roll não era pra estar aqui de novo. Gelado na garganta.

E depois ainda me perguntam por que eu tenho vontade de sumir.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Akt 5 - Erwacht

É quase uma dedicação ritual.

Não sinto sono, apesar das poucas horas que passei dormindo em relação às que passei acordada. Ou melhor, sinto sono, mas não durmo por saber que agora não posso. Assim como sinto fome, mas não tenho como arranjar comida agora. Também estou ignorando as dores musculares pela tensão e pela imobilidade.

Ainda não sei o que sentir.

A melhor definição que me deram foi "antes de tudo, são seres humanos, e é por isso que você cuida", e eu não posso negar que isso também é verdade.

Também.

Porque estou aprendendo que a verdade não uma coisa uniforme. Ela tem muitos aspectos, cada um com diferentes variações e intensidades, cada um formando uma parte do todo que recebe o nome de "verdade".

Especialmente quando se trata de pessoas.

Outros aspectos da minha verdade são morais. Mas também são egoístas. E alguns até abertamente manipuladores. Há aspectos espirituais também. E há um aspecto que eu detesto, mas também existe e eu não posso negar: a culpa. Essa aí eu tenho que me acostumar a olhar até conseguir chegar perto. E depois de chegar perto preciso catar pelo tronco e arrancar até a raiz, ou tacar fogo, ou dar um jeito de envenenar.

...Envenenar a culpa que me envenena, irônico.

De qualquer forma, inegável o fato que eu sou extremamente forte e capaz. Não creio que qualquer pessoa passaria por tudo isso e lidaria da mesma forma. 

Eu continuo sendo a pessoa mais sã do pedaço. Acho que soltar a âncora me ajudou a me centrar.

Tenho a impressão que eu já havia soltado, na verdade, e só agora notei. Quem sabe.

Por ora, permaneço aqui, em minha madrugada de dedicação ritual, com o sono, as dores, as dúvidas, a força.

É o que eu tenho, e é o que me basta.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Akt 4 - Verloren

É uma sensação curiosa.

Eu não dormi - nem vou -, mas desta vez não há alucinações nem mandalas para onde quer que eu olhe.

Tem sido curioso.

O abandono, o desespero, a insistência, a desistência.

É um ciclo que eu tenho vivenciado com cada vez mais intensidade. E que intensidade.

Desde que eu comecei a sentir, essa parece ser a única coisa que eu faço, o tempo todo, todo o tempo. Até os pensamentos se processam no nível dos sentimentos, é incrível.

Mas desta vez sinto que algo definitivo foi rompido.

Era uma corda a que eu me agarrava com todo fervor, mesmo sabendo que estava amarrada a uma âncora que me puxava cada vez mais para o fundo. Era o meu mundo, distorcido, mas meu. Era meu dever, e eu lutava para puxá-la para cima e não me afogar, e continuar nadando, e encontrar um pedaço de terra firme onde eu pudesse depositar essa âncora.

But anchors belong to the deep.

Pois bem. É curioso, porque a corda continua firme e visível, a âncora vai continuar descendo, e eu ainda estou ali do lado, na água. Mas eu soltei.

Eu abri minhas mãos, soltei, e agora vou me afogar - em ar.

When, and where, have you, my heart, abandoned me?

Akt 3 - Götterdämmerung

O cheiro asséptico do ar filtrado pelo ar-condicionado, o piso claro, antiderrapante. As cores pastel das salas de emergência e da enfermaria.

Cada um de um lado, cada um em um quarto.

Eu agora estou ao lado da maca, na sala de emergência, preocupada, e também preocupada com o que pode estar acontecendo na enfermaria.

Mas de verdade, de verdade, eu queria estar em outro lugar. Ou viver outra vida.

Ele está ressonando calmamente na maca ao meu lado, como se a sujeira, o sangue e o inchaço do rosto não existissem. Ele está anestesiado. Por qual substância, não sei.

A dor que ele ignora veio se esconder na minha garganta.

Ele abre os olhos, "Você está bonita", e sorri. O sorriso faz um pouco de sangue escorrer do canto da boca e do nariz.

Ele apaga, acorda de novo, "Eu queria falar com ela", reclama. Agora é a minha vez de sangrar.

Fico imaginando todas as outras vezes em que ela esteve ao lado da maca, esperando o médico, esperando um milagre.

Agora eu entendo por que ela não queria que eu visse, que eu soubesse, que eu participasse. Ela me queria inocente. É doído ver quem você ama nesse estado. 

Mas agora ela está na enfermaria, e eu estou aqui e tenho que ver. Tenho que crescer

E como dói.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Fünf.

Um ato aparentemente inocente, sem muitos interesses, apenas para facilitar uma possível interação, transformou-se num buraco negro engolindo praticamente tudo o que compõe o dia a dia que pretendia ser corrido, mas normal.

Was ich kann und was ich könnte? Weiß ich gar nicht mehr.

Eu acordo, vou trabalhar, depois vou pra faculdade, volto pra casa e vou dormir. Simples. Rotina acertada e mantida com certa regularidade.

Mas e os espaços em branco entre uma ação e outra? Neles eu me perco e tento me encontrar, às vezes consigo, mas na maior parte das vezes é como se eu apenas olhasse pra um imenso e denso vazio.

Gib mir wieder etwas schönes, sieh mich aus dem Meer.

E um ato totalmente inocente, calculado mas inocente, juntou-se aos pequenos pedaços de [in]sanidade que são sugados pra dentro do buraco negro e perdem-se no meio da escuridão do vazio que é próprio destes fenômenos.

Kannst du mich schreien hören? Ich bin hier allein!


Aber ich höre nicht dich anrufen. Weil du nicht mir anrufen wirst.


E eu SEI disso.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O ano da Serpente

Tão delicado
E tão suave
O sangue que escorre devagar
É macio e quente
E nos une.

Tão precioso
E tão complicado
O mosaico no chão tem meus cacos
Que também são seus,
Cuidado!

Tão doce
E tão desesperada
O desejo que eu desejo
Contrastando com o que eu deveria querer
E que eu quero

...Tanto quero
Tão querido
Que nem sei
O que dizer.