sábado, 23 de novembro de 2013

Akt 6 - Insel, Lengsel

Em alguns momentos de lucidez eu me dou conta desse impulso que rege minhas atitudes. E ele se dá em duas direções.

Uma delas, a principal, é a do "menos". Eu geralmente me esforço para falar o menos possível, o mais baixo possível. Ocupar o mínimo de espaço possível. Comer o menos possível. Aparecer o menos possível. Existir o menos possível - me reduzir ao mínimo do mínimo que alguém pode ser (com sorte, chegar ao nível de ~respirar apenas~, imóvel). Nesses momentos chego a me surpreender por ser visível.

A outra - oposta, por assim dizer - é a que afirma que sim, eu existo, e sou enorme e criadora e capaz e maior que tudo. Essa geralmente fica restrita às minhas fantasias silenciosas. Mas de vez em quando consegue escapar, e é enorme e barulhenta - e me incomoda, e me seduz.

Eu sinceramente prefiro a estabilidade silenciosa da primeira, plácida e quietinha.

Mas por que insisto tanto em sonhar com a segunda?

domingo, 21 de julho de 2013

Neun.

Eu vejo e sinto, eu vejo coisa demais e sinto coisa demais. Há coisas que eu não devia saber, há coisas que eu não devia sentir. Há coisas que eu vejo sem querer, há coisas que eu sinto sem querer. Há coisas que eu sinto porque fui atrás de ver. Há coisas que eu vejo simplesmente por causa do que eu sinto.

De todas essas coisas, há duas que eu não entendo.

Por que eu sinto com tanta intensidade?

Por que eu vejo com tanta clareza?

Sei que isso é irreversível, mas eu acho que trocaria tudo o que eu tenho na vida pela anulação destes dois itens acima.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Acht.

Alles was ich lieben will zerbricht an mir und dann zerstört es mich.

Eu tento pensar que não é bem assim, que algo ainda precisa ser resolvido de alguma forma para que as coisas fiquem certas onde elas devem ficar, mas eu nem mesmo sei mais onde é que as coisas devem ficar.

Ou onde EU devo ficar.

Cada vez que eu penso qual é o meu lugar no mundo, eu entro numa espiral meio estranha. Eu começo a lembrar o que já me disseram. Já me disseram que eu era um anjo. Já me disseram que eu era mordível. Já me disseram que eu era a melhor. Já me disseram tanta coisa que eu nem consigo mais lembrar o que me disseram.

E toda vez que eu lembro qual foi a escolha que eu fiz, eu tenho vontade de arrancar as carnes do meu corpo e sair atirando pra todos os cachorros sarnentos que ficam vagando na rua.

Eu não me arrependo da escolha que eu fiz e provavelmente faria a mesma escolha novamente, por mais que eu sinta uma tristeza infinita quando eu me lembro como foi tomar a decisão e qual foi a consequência imediata. Porque não estava certo, não era mais certo continuar com aquilo.

Mas os cães sarnentos se saciariam plenamente porque a sensação de que aquela foi a escolha que me fadou a passar um tempo grande demais catando os pedaços da minha alma por aí e tentando colar junto com os retalhos do meu coração rasgado e ferido é algo que me faz entrar num misto de desespero frenético e resignação por não conseguir por pra fora o quanto dói sentir demais as coisas.

E o quanto dói ter que admitir que, mais uma vez, meu coração estacionou em local proibido, eu fiquei na esquina observando e crendo piamente que ninguém ia perceber e eu poderia mantê-lo ali por quanto tempo eu quisesse, até que o guincho chegou para retirá-lo dali, e no processo de remoção ele acabou se estropiando todo.

Wie und wann hast du deine Liebe für mein Herz verloren?…

 

Só pra piorar tudo, algo me diz que já está acontecendo de novo. Não exatamente da mesma maneira. Mas as peças já estão se movendo, como num tabuleiro de xadrez, e dessa vez a derrota virá em poucos lances por uma jogada conjunta entre o cavalo e a torre.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sieben.

A gente não controla o que a gente sente. Se gostar de uma pessoa fosse assim, fácil, eu ainda estaria namorando. Mas não é assim que funciona. E até a gente entender que não, as pessoas não gostam da gente porque a gente quer que elas gostem simplesmente porque nós gostamos dela vai um tempo de reflexão, um pouco de raiva, um tantinho de mágoa, uma tonelada de chocolate – pra quem é saudável, rs – e mais um pouco de reflexão e até a noção de que a maldita da friendzone não existe.

Então a gente percebe que as pessoas são o que são, e sentem o que sentem, e que a gente não pode mudar isso à força, o que a gente pode fazer é, sei lá, rezar pra que algum detalhezinho nosso que tenha escapado da vista da outra pessoa faça com que ela passe a gostar da gente e – olha só, quem diria – pode ser que alguma coisa passe a encaixar, fazer sentido nessa maçaroca que são os sentimentos.

Alcançar esse tipo de “lucidez” leva um pouco de tempo, mas depois que acontece, fica até um tanto fácil de explicar. Mas é ÓBVIO que algo vai dar errado no caminho, porque como eu disse ali em cima, as pessoas são o que são e sentem o que sentem. E é compreensível, claro, quando alguém não consegue entender o processo todo.

Mas alguém pode me explicar por que raios catódicos eu acabei de ser acusada de não me interessar por uma pessoa que se diz apaixonada por mim, como se não corresponder uma paixão fosse o pior defeito que alguém pode ter, só porque eu disse que geralmente as pessoas por quem eu me interesso não retribuem o interesse?

Só falta alguém virar pra mim e dizer que eu não mereço que o meu interesse por alguém seja retribuído só porque não me interessei por essa pessoa em específico.

sábado, 22 de junho de 2013

Sechs.

Acorda. Lembra de um sonho. Descreve o sonho. Levanta. Toma café. Toma uma partícula de estabilidade. Arruma o quarto. Vai almoçar. Troca mensagens com algumas pessoas. Toma um banho. Arruma-se. Vai pra faculdade. Janta. Estuda um pouco. Pega outro ônibus. Chega em casa. Continua estudando. Fuma. Come. Toma uma partícula de estabilidade.

Acorda frustrada. Lembra de um sonho e o descreve pensando por que raios aquele sonho apareceu. Levanta meio tonta. Engole o café junto com a partícula de estabilidade. Sai pegando roupa suja pelos cantos e recolhendo o lixo. Gasta 50 reais em comida japonesa e sai de lá com um pacotinho. Fala com pessoas das quais gosta mas não sabe exatamente qual é a recíproca. Toma um banho quente com cuidado pra não escorregar. Desiste de colocar uma blusa que indica em qual faculdade estuda. Nota mental: a escarola não precisa de MAIS sal. Amaldiçoa Lutero por ter reinventado a língua alemã. Olha pro relógio. Tá mais tarde do que deveria. Senta no banco meio frustrada com o exemplar d’A política do Aristóteles na mão. Joga a bolsa de um lado e a blusa do outro. O que diabos significa Geschenkvorschlag? Ainda tem metade do maço. Esse hot roll não era pra estar aqui de novo. Gelado na garganta.

E depois ainda me perguntam por que eu tenho vontade de sumir.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Akt 5 - Erwacht

É quase uma dedicação ritual.

Não sinto sono, apesar das poucas horas que passei dormindo em relação às que passei acordada. Ou melhor, sinto sono, mas não durmo por saber que agora não posso. Assim como sinto fome, mas não tenho como arranjar comida agora. Também estou ignorando as dores musculares pela tensão e pela imobilidade.

Ainda não sei o que sentir.

A melhor definição que me deram foi "antes de tudo, são seres humanos, e é por isso que você cuida", e eu não posso negar que isso também é verdade.

Também.

Porque estou aprendendo que a verdade não uma coisa uniforme. Ela tem muitos aspectos, cada um com diferentes variações e intensidades, cada um formando uma parte do todo que recebe o nome de "verdade".

Especialmente quando se trata de pessoas.

Outros aspectos da minha verdade são morais. Mas também são egoístas. E alguns até abertamente manipuladores. Há aspectos espirituais também. E há um aspecto que eu detesto, mas também existe e eu não posso negar: a culpa. Essa aí eu tenho que me acostumar a olhar até conseguir chegar perto. E depois de chegar perto preciso catar pelo tronco e arrancar até a raiz, ou tacar fogo, ou dar um jeito de envenenar.

...Envenenar a culpa que me envenena, irônico.

De qualquer forma, inegável o fato que eu sou extremamente forte e capaz. Não creio que qualquer pessoa passaria por tudo isso e lidaria da mesma forma. 

Eu continuo sendo a pessoa mais sã do pedaço. Acho que soltar a âncora me ajudou a me centrar.

Tenho a impressão que eu já havia soltado, na verdade, e só agora notei. Quem sabe.

Por ora, permaneço aqui, em minha madrugada de dedicação ritual, com o sono, as dores, as dúvidas, a força.

É o que eu tenho, e é o que me basta.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Akt 4 - Verloren

É uma sensação curiosa.

Eu não dormi - nem vou -, mas desta vez não há alucinações nem mandalas para onde quer que eu olhe.

Tem sido curioso.

O abandono, o desespero, a insistência, a desistência.

É um ciclo que eu tenho vivenciado com cada vez mais intensidade. E que intensidade.

Desde que eu comecei a sentir, essa parece ser a única coisa que eu faço, o tempo todo, todo o tempo. Até os pensamentos se processam no nível dos sentimentos, é incrível.

Mas desta vez sinto que algo definitivo foi rompido.

Era uma corda a que eu me agarrava com todo fervor, mesmo sabendo que estava amarrada a uma âncora que me puxava cada vez mais para o fundo. Era o meu mundo, distorcido, mas meu. Era meu dever, e eu lutava para puxá-la para cima e não me afogar, e continuar nadando, e encontrar um pedaço de terra firme onde eu pudesse depositar essa âncora.

But anchors belong to the deep.

Pois bem. É curioso, porque a corda continua firme e visível, a âncora vai continuar descendo, e eu ainda estou ali do lado, na água. Mas eu soltei.

Eu abri minhas mãos, soltei, e agora vou me afogar - em ar.

When, and where, have you, my heart, abandoned me?

Akt 3 - Götterdämmerung

O cheiro asséptico do ar filtrado pelo ar-condicionado, o piso claro, antiderrapante. As cores pastel das salas de emergência e da enfermaria.

Cada um de um lado, cada um em um quarto.

Eu agora estou ao lado da maca, na sala de emergência, preocupada, e também preocupada com o que pode estar acontecendo na enfermaria.

Mas de verdade, de verdade, eu queria estar em outro lugar. Ou viver outra vida.

Ele está ressonando calmamente na maca ao meu lado, como se a sujeira, o sangue e o inchaço do rosto não existissem. Ele está anestesiado. Por qual substância, não sei.

A dor que ele ignora veio se esconder na minha garganta.

Ele abre os olhos, "Você está bonita", e sorri. O sorriso faz um pouco de sangue escorrer do canto da boca e do nariz.

Ele apaga, acorda de novo, "Eu queria falar com ela", reclama. Agora é a minha vez de sangrar.

Fico imaginando todas as outras vezes em que ela esteve ao lado da maca, esperando o médico, esperando um milagre.

Agora eu entendo por que ela não queria que eu visse, que eu soubesse, que eu participasse. Ela me queria inocente. É doído ver quem você ama nesse estado. 

Mas agora ela está na enfermaria, e eu estou aqui e tenho que ver. Tenho que crescer

E como dói.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Fünf.

Um ato aparentemente inocente, sem muitos interesses, apenas para facilitar uma possível interação, transformou-se num buraco negro engolindo praticamente tudo o que compõe o dia a dia que pretendia ser corrido, mas normal.

Was ich kann und was ich könnte? Weiß ich gar nicht mehr.

Eu acordo, vou trabalhar, depois vou pra faculdade, volto pra casa e vou dormir. Simples. Rotina acertada e mantida com certa regularidade.

Mas e os espaços em branco entre uma ação e outra? Neles eu me perco e tento me encontrar, às vezes consigo, mas na maior parte das vezes é como se eu apenas olhasse pra um imenso e denso vazio.

Gib mir wieder etwas schönes, sieh mich aus dem Meer.

E um ato totalmente inocente, calculado mas inocente, juntou-se aos pequenos pedaços de [in]sanidade que são sugados pra dentro do buraco negro e perdem-se no meio da escuridão do vazio que é próprio destes fenômenos.

Kannst du mich schreien hören? Ich bin hier allein!


Aber ich höre nicht dich anrufen. Weil du nicht mir anrufen wirst.


E eu SEI disso.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O ano da Serpente

Tão delicado
E tão suave
O sangue que escorre devagar
É macio e quente
E nos une.

Tão precioso
E tão complicado
O mosaico no chão tem meus cacos
Que também são seus,
Cuidado!

Tão doce
E tão desesperada
O desejo que eu desejo
Contrastando com o que eu deveria querer
E que eu quero

...Tanto quero
Tão querido
Que nem sei
O que dizer.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Vier.

Eu devia estar terminando um serviço. Mas precisei parar pra botar uma coisa pra fora.

Eu só estou acordada a essa hora porque confiei numa pessoa. Pra variar, a confiança não foi merecida. E estou eu aqui perdendo horas de sono pra conseguir cumprir o prazo estipulado.

E eu fico procurando sarna pra me coçar.

Uma das vontades que eu tive mais cedo foi jogar o netbook na parede, já que ele não colabora, mandar tudo à merda e SUMIR. Pra ver se eu consigo parar de pensar em tudo o que eu ando pensando.

As partículas de estabilidade fizeram com que eu não despencasse hoje, mesmo com tudo o que deu errado. E de certa forma elas estão me mantendo centrada, mesmo depois de eu ter visto algo que eu não deveria nem ter ido procurar, em primeiro lugar.

A pergunta volta: O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

Ando ouvindo os conselhos errados, ando procurando coisas onde elas não estão, ando imaginando coisas que não existem, ando fazendo coisas que eu não devia fazer, ando dizendo coisas que eu não devia dizer.

Ando tendo esperança demais.

Ando precisando realmente me foder de verde e amarelo pra ver se alguma coisa entra na minha cabeça.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Akt 1 - Feuerwerk

Por trás das minhas pálpebras fechadas existe um mundo que só eu posso ver.

A princípio, apenas formas e cores irregulares que surgem e se misturam sem sentido, formando mandalas, quase um caleidoscópio. E então tudo passa a ter cor e forma e luz própria. E eu vejo.

Às vezes, mesmo com os olhos abertos (estarão mesmo?), eu vejo.

Com em um desses sonhos estranhos em que a gente sabe que está sonhando, eu sei que o que eu vejo não está ali, mas está, porque eu vejo - mesmo sabendo que só eu posso ver. A sensação é familiar, já. Só em raras ocasiões que me assusta. Eu já aprendi a evitá-las o mais que posso. Sei que, mesmo que não seja por um motivo "real", o medo é incontrolável. Então eu tomo tanto cuidado quanto posso enquanto exploro essa terra encantada, porque sei que suas bordas são precipícios, e sei que não quero cair neles. Na verdade, tenho vertigens só de pensar. Então evito chegar muito perto.

No mais, apenas sei que o mundo é mais povoado do que percebem, e coisas comuns são mais incomuns do que se pode imaginar. E tenho a vantagem de criar companhia quando estou só, desde que respeite a regra de não chegar perto da borda: uma autonomia controlada. 

Isso cria uma certa cacofonia de vozes e vontades na minha mente, mas no geral a sensação é agradável. Entorpecedora. Me faz evitar, e até esquecer, das coisas desta "realidade" que tanto me incomoda.

Entro no ônibus, fones no ouvido, olhos abertos sem ver. Sentada no meu lugar de sempre, deixo as mandalas se formarem atrás dos meus olhos e sigo em uma viagem além e maior do que o simples trajeto até o metrô.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Drei.

A sensação gelada no fundo da garganta acompanha o deslizar da cápsula gelatinosa e assemelha-se àquela sensação de aperto que aparece segundos antes da constatação de que o choro vai ser longo e copioso. Mas não há lágrimas, não dessa vez.

Porque não chega a ser um sofrimento, nem uma alegria.

Duzentos e cinquenta motivos para pensar que algo finalmente vai entrar no lugar certo. Duzentas e cinquenta chances de ficar um dia inteiro com o mesmo estado de humor. Duzentas e cinquenta hesitações. Duzentos e cinquenta empurrões.

Ironicamente, o número físico relativo das duzentas e cinquenta partículas é cento e vinte e cinco.

Ironicamente de novo, o que foi preciso para que os duzentos e cinquenta pedacinhos de estabilidade começassem a mostrar para que servem foi justamente o que eles tentarão combater.

Duzentos e cinquenta gritos de “eu não quero ficar assim” unidos com duzentos e cinquenta sussurros de “eu não quero ter que fazer isso”.

Mas eu fiz. Duzentas e cinquenta sensações de frio na garganta. E agora as cento e vinte e cinco promessas de que algo vai mudar são “apenas” cento e vinte e quatro.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Prolog - Zusammenbrechen

O vácuo que se acumula e se adensa no meu peito é inescrutável e imensurável. Ele se alimenta de si mesmo. Como o uroboros, a mítica cobra engolindo o próprio rabo, o desespero se alimenta do desespero que há em mim e cresce num círculo vicioso que engole o mundo - o MEU mundo, que é tudo que tenho. E eu estou desesperadamente tentando manter uma luz acesa, uma chama de fósforo que seja, em meio a essa escuridão ululante que só faz crescer.

Agora sou oficialmente mais um número na estatística de sobreviventes.

Ao menos, sobrevivi. E sobrevivo. Até quando?

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Zwei.

Fim de semana bagunçado, com todas as fugas possíveis e imagináveis. Todas as coisas “úteis” foram deixadas de lado em favor de um escape do mundo que gira na minha cabeça para um lugar [ou lugares] onde eu não precise pensar tanto em como vou fazer pra dar conta da minha vida.

Valeu a pena? Porra se valeu.

Então eu me deito na minha cama no domingo à noite, tentando pensar em tudo o que eu fiz – ou não – no final de semana, e o sono chega de mansinho, fazendo com que eu me deite nas areias macias de uma praia deserta e adormeça com o som tranquilo da maré noturna. Esqueço-me das janelas, dos aplicativos de conversa, do e-mail, das redes sociais, de tudo, como se Morfeu pessoalmente houvesse pego na minha mão e me guiado a entrar em seu reino.

Onze horas depois, desperto, e a praia deserta se transformou em uma parte da costa de Sendai, aquela que foi devastada por um tsunami que se seguiu a um maremoto em 2011. Mensagens urgentes, e-mails urgentes, a bagunça no quarto que continua aqui, prazos, provas, trabalhos. Contaminação por radioatividade é o mínimo que eu posso esperar, pois Morfeu me abandonou, e Hypnos parece ter ficado com raiva dos sonhos que tive sem a ajuda dele. Como castigo, ele lançou os pesadelos numa realidade que já não é lá essas coisas, e agora eu me pego pensando no que fazer primeiro.

Mas eu não vou me arrepender de ter dado skip da minha vida no final de semana. I regret nothing.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Eins.

Madrugada. Exame no dia seguinte. Bateria marcada ecoando na cabeça. Ela não devia estar ali, mas está. Conversa aleatória, outra não tão aleatória assim. Resquício de sono, de fome, de dor de cabeça.

É um daqueles momentos em que se para e pensa “o que diabos eu estou fazendo?”. Depois a constatação: você não faz a mais puta ideia do que está fazendo. Não faz ideia de qual caminho está tomando, nem pra onde ele leva, ou o que vai acontecer em cinco minutos.

Pior: não pode perguntar pra ninguém o que está acontecendo, porque ninguém vai saber responder. This is YOUR life.

Bateria marcada, de novo. Ela não devia estar ali, mas está. Você olha ao redor, para a bagunça no chão, na mesa, na caixa, no guarda-roupa, na pia. Pensa no dia que passou. O que diabos você está fazendo?

O que diabos você acabou de fazer???

Cigarro. Daqui a pouco nem café vai rolar porque tem o exame. Daí você pensa, pensa, pensa e lembra de duas coisas.

1) Se há várias alternativas para uma solução, geralmente a mais simples é a correta;

2) As decisões que você toma são as melhores possíveis dentre todas as existentes no momento em que você toma a decisão.

Navalha de Occam e Leibniz, porque você tem que ser nerd mesmo quando está na merda. Mas isso serve de alguma coisa, porque a bateria marcada continua ali, e é bem ali que ela devia estar.